“Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa
dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo
fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando
que caíra no pátio da escola um pedaço de lua. Desta vez Paulo não só ficou sem
sobremesa, como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias. Quando o
menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de
Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu,
a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a
cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Colo. Este menino é mesmo
um caso de poesia.”
(Carlos Drummond)
(Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. A incapacidade de
ser verdadeiro. Em: Poesia e prosa. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 1988.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário