E deu-se que o capitão
Nicolino Borba, de Sacopé de Monte Verde, sentiu uma agulhada no peito, caiu e
dado como morto foi. Quando era levado paro o cemitério, eis que o capitão
dosabrochou por entre flores e grinaldas aos berros e já fazendo inquirições.
Como era muito usurário, de não dar bom dia para não gastar o solado da língua,
logo entrou de perguntativo em pauta:
- Que negócio é este? Que
despautério é este? Enterro de primeira com caixão de veludinho e um jasmim de
rosas por cima, é para estuporar. É despesa muita para um defunto só.
Desperdício!
Correu gente, veio médico
de maleta na mão e no caixão mesmo examinou o usurário. Logo na primeira ouvida
que aplicou na armação dos peitos de Nicolino, viu que andava bem vivo e em bom
estado de uso. E aproveitou para falar dos perigos que o capitão corria. E com
autoridade de receitador de poções:
- Desta vez o capitão
escapou. Mas lhe digo que não vai muito longe se não fizer tratamento urgente,
como requer sua doença. É o que lhe digo. Não vai muito longe. Bem encastoado
no veludo do caixão, Nicolino perguntou:
- Se não é falta de
respeito, doutor, em quanto fica essa medicina?
O médico, rapidinho,
colocou a mazela de Nicolino na máquina de somar e apresentou a conta:
- Oitocentos contos para
um tratamento completo.
E Nicolino:
- Toca o enterro, minha
gente. Por esse preço prefiro morrer, que remédio no céu é mais barato.
José Cândido de Carvalho
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