sábado, 30 de março de 2013

Na praça



 Aconteceu exatamente como os dois esperavam, isto é, da mesma forma como vinha acontecendo há cerca de dois anos. Fernanda de cara feia, e Rodrigo com um jeito de quem quer e não quer se desculpar.
Fernanda aspirava o ar para ver se ele tinha posto aquele perfume gostoso e acabou descobrindo que havia um outro cheirinho mais gostoso que vinha dele mesmo.
O rosto dela perdeu o ar carrancudo, e daí ele não agüentou e falou do jogo. Ela emburrou outra vez.
Que raiva! Ela queria perguntar quem estava no campinho, que meninas tinham ido torcer por ele, mas sabia que não ia suportar as explicações dele e que o sábado iria terminar em briga outra vez.
Ele também queria perguntar o que ela tinha feito durante o dia, mas sabia que ela ia fazer bico de choro, pois passara ouvindo a mãe cantar e ajudando a enrolar doces.
Ambos sabiam que era melhor não tocar em nenhum assunto perigoso.
Andaram um pouco em volta do coreto e acabaram se sentando num banco onde nunca tinham sentado. Um banco que dificilmente estava vago, pois não só ficava atrás do coreto, como ainda ficava encoberto pela sombra da igreja. Era o banco preferido dos namorados, e só quem chegava muito cedo conseguia lugar ali. Era o banco dos sem-vergonhas, como diziam as más línguas da cidade.
Mas os dois nem pensaram nisso. Era também um banco doado pelo deputado, que Rodrigo teve o cuidado de limpar com um lenço, porque sempre aparecia alguém mais zangado e cuspia no nome do fulano, com vontade mesmo de cuspir na cara, se tivesse coragem para tanto.
Rodrigo sentou-se sobre a primeira letra do nome, e Fernanda, na última do sobrenome. Aos poucos foram se achegando. Ele pegou na mão dela. Espiou para ver se havia algum curioso. Passou o braço em torno da cintura da menina, e então saiu o beijo que os dois vinham sonhando há tanto tempo.

(Susana Dias-Beck. "Por um grande amor". São Paulo, Moderna, 1988. p. 33-4. Coleção Veredas.)

   ENTENDIMENTO DO TEXTO

Vocabulário

  Há alguma palavra do texto cujo sentido você desconhece? Procure esclarecê-la antes de iniciar a análise das idéias.

Discutindo as idéias do texto

1. Quem são as principais personagens do texto "Na praça"?
 2. Onde eles estavam?
 3. Os dois evitavam tocar em certos assuntos. Quais eram esses assuntos?
 4. No final do texto, acontece algo que ambos esperavam há tempos. Do que se trata?

Compreensão do texto

1. Há quanto tempo Fernanda e Rodrigo se conhecem?
 2. O que a autora quis dizer com "as más línguas da cidade"?
 3. A princípio, os namorados estavam estremecidos:
 ¨    "Fernanda de cara feia, e Rodrigo com um jeito de quem quer e não quer se desculpar."
 a) Qual a causa dos desentendimentos?
• ciúmes
• caprichos
• discussões próprias de namorados
 ¨    Justifique sua resposta.
 b) Fernanda e Rodrigo finalmente se entenderam?

4. a) Quem é o narrador desta história?
 ¨    b) Em que você se apoiou para dar essa resposta?

5. Na sua opinião, que assuntos devem ser considerados perigosos para dois jovens que se amam?

   ESTUDO DO VOCABULÁRIO

1. Dê o significado das expressões em destaque:
 a) O sábado iria terminar em briga "outra vez".
 b) Andaram um pouco "em volta do" coreto.
 c) "Aos poucos" foram "se achegando".

 2. Substitua as palavras em destaque por outras que tenham o mesmo significado:
 a) Ela "emburrou" outra vez.
 b) Era o banco "preferido" dos namorados.
 c) Aos poucos foram "se achegando".

3. Leia: "Ambos sabiam que era melhor não "tocar" em nenhum assunto perigoso".
 ¨    O verbo "tocar" tem vários significados. Veja alguns:
 ¨    1. palpar. 2. tirar sons (de instrumentos). 3. fazer soar. 4. executar música.

  5. comover, sensibilizar.

  6. conduzir; tanger (gado). 7. referir-se; mencionar.
 a) Em que sentido foi empregado o verbo "tocar", na frase acima?
 b) Construa uma frase, empregando-o em sentido diferente do texto.

4. Pesquise a diferença entre "espiar e "expiar". Depois, construa frases com essas palavras.

5. Diga com outras palavras:
 a) Fernanda estava de cara feia.
 b) O rosto dela perdeu o ar carrancudo.
 c) Alguém cuspia no nome do fulano, com vontade mesmo de cuspir na cara.

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