sábado, 30 de março de 2013

ORAÇÃO SEM NOME



O autor desse poema, quem o sabe?
Foi encontrado em pleno campo de batalha,
no bolso de um soldado americano desconhecido;
do rapaz estraçalhado por uma granada,
restava penas intacta esta folha de papel.

Escuta Deus:
Jamais falei contigo.
Hoje quero saudar-te. Bom dia! Como vais?
Sabes? Disseram-me que tu não existes,
E eu, tolo, acreditei que era verdade.
Nunca havia reparado a tua obra.
Ontem à noite, da trincheira rasgada por granadas,
vi teu céu estrelado
e compreendi então que me enganaram.
Não sei se apertarás a minha mão.
Vou te explicar e hás de compreender.
É engraçado: Neste inferno hediondo
Achei a luz para enxergar o seu rosto.
Digo isto, já não tenho muita coisa a te contar:
Só que... que... tenho muito prazer em conhecer-te.
Faremos um ataque à meia-noite.
Não sinto medo.
Deus, sei que tu velas...
Ah! É o clarim! Bom Deus, devo ir embora.
Gostei de ti... vou ter saudade... quero dizer:
Será cruenta a luta, bem o sabes,
E esta noite pode ser que eu vá bater-te à porta!
Muito amigo não fomos, é verdade.
Mas... sim, estou chorando!
Vês, Deus, penso que já não sou tão mau.
Bem, Deus, tenho que ir.
Sorte é coisa bem rara:
Juro, porém: já não receio a morte.
                    “As mais belas orações de todos os tempos”

ALPHEU TERSARIOL

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